quarta-feira, 2 de julho de 2008

Os partidos nesta eleição

Por Marcos Coimbra
"Embora lugar-comum, é necessário sempre lembrar que, sem partidos, ficamos com uma democracia instável e sujeita a vários males: caciquismo, personalismo, populismo

Terminou, na segunda-feira, o primeiro ato das eleições municipais deste ano. Nesse dia, foram realizadas as últimas convenções para definição do modo como os partidos vão delas participar, se terão candidatos próprios a prefeito ou vice, se integrarão alguma coalizão, se concorrerão e como na eleição proporcional.

Pode ser que alguma coisa nova ainda aconteça, pois as decisões dessas convenções têm de ser encaminhadas à Justiça Eleitoral, para homologação. Findo o prazo para isso, mudanças, só se houver motivo de força maior. Como elas raramente ocorrem, podemos considerar que é definitivo o quadro de hoje.

Pensando em todas as eleições modernas, que fizemos depois do fim do autoritarismo, não houve nenhuma em que o tema dos partidos tenha sido tão proeminente como nesta, até o momento. Se olharmos o modo como elas foram tratadas pela imprensa, foi rara uma nota, um comentário, uma análise que não tenha se referido aos partidos de maneira central.

Nem é preciso dizer o quanto isso é positivo. Embora lugar-comum, é necessário sempre lembrar que, sem partidos, ficamos com uma democracia instável e sujeita a vários males: caciquismo, personalismo, populismo. Por menos representativos que sejam, ruim com eles, pior sem eles. Mesmo os nossos, que funcionam de tal maneira que não é surpresa que a maioria da população tenha pouco respeito e muita descrença em relação a eles.

O que chama a atenção no processo que vivemos até agora foi o destaque que os partidos tiveram em muitas cidades, em quase todas as mais importantes. Nelas, não houve nenhum fato relevante do qual os partidos, enquanto instituições, não participaram.

Tomemos as duas capitais onde as eleições municipais despertam mais interesse nacional, São Paulo e Belo Horizonte. Nas duas, as discussões giraram em torno dos partidos, suas instâncias decisórias, eventuais discrepâncias entre as opiniões de executivas municipais, estaduais e nacionais, quem tinha maioria e quem era minoria nas convenções, que chapas tinham mais ou menos chance de vencer.

Ou seja: discutimos a vida partidária, tratando-a como algo que existe de fato, sem ficar repetindo os estereótipos de que nossos partidos são ficções, que nada significam. Isso é bom e é novo.

O que se passou com o PT em Belo Horizonte é especialmente sugestivo. Não se está aqui avaliando se foi correta ou não a posição que a Executiva Nacional tomou a respeito da proposta encaminhada pelos diretórios da cidade e do estado. Mas o fato de ela tomar uma posição contrária e de não levar em conta o desejo do presidente Lula mostra que o partido tinha uma opinião e que a fez prevalecer. Quando Pimentel a respeitou, ele corroborou ainda mais a importância da Executiva.

Algo parecido aconteceu em São Paulo, com o PSDB. O governador José Serra, a maior liderança do partido do estado, foi obrigado a recuar de sua óbvia preferência pela candidatura de Gilberto Kassab, para evitar um confronto com os defensores de Alckmin. Lá, também, venceu o sentimento partidário, certo ou errado.

Aos trancos e barrancos, nossos partidos políticos seguem sua história. Vamos deixar que a sigam, sem interferências e sem invencionismos institucionais, que só a perturbam.

Nenhum comentário: