segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Apertem os cintos, o dinheiro sumiu.

Jair Santos *

A avalanche de notícias sobre a atual crise econômica mundial está tirando o sono de muitos, do simples consumidor ao mega investidor, que aliás, já não dorme há muito tempo.

Entretanto, apesar das notícias catastróficas e mensagens apocalípticas, este é um momento que se deve ter serenidade e racionalidade. A crise estabelecida está tornando os mercados totalmente sem parâmetros reais para qualquer tipo de movimentação financeira, mais especificamente para os investimentos.

Isso ocorre porque a base do capitalismo posto em nossa sociedade é a oferta de crédito. Sem crédito, o dinheiro simplesmente evaporou e os países em desenvolvimento (e aí se encontra o Brasil) estão com sérias dificuldades em capitalizar internacionalmente seus investimentos para o setor produtivo. Sem crédito, o capitalismo sofre de anemia, sem forças para se movimentar.

Alguns “profetas” da economia dizem que esta crise é igual a de 1929, o que não sei se verdade, porque em 29 a economia não era tão inter conectada como hoje, tanto que naquela época, passaram-se quatro anos para que os governos atuassem de fato para debelar a crise. Hoje a globalização econômica traz tanto a possibilidade de a economia ir literalmente pro brejo, quanto os governos atuarem de forma mais rápida e incisiva para contê-la. Para alívio de todos é a segunda opção que está em movimento.

Outro fator que distingue a atual crise daquela é o fato de termos uma organização mais sólida da iniciativa privada. Nestes quase oitenta anos, o sistema capitalista se tornou mais robusto e sólido, além de estar mais preparado em criar arranjos para reinventar o sistema capitalista.

Desta maneira é bobagem a declaração desses “profetas” que atiram no escuro sem ter o mínimo de parâmetros para isso, fazendo puro exercício de futurologia. A crise pode ser igual a de 29, como também pode ser menor ou na pior das hipóteses, muito maior. Num clima tão irracional não é possível fazer qualquer previsão sobre o tamanho da crise e seus rumos. É pura especulação, que aliás, deixam esses ditos mercados mais nervosos e retraídos.

Independente das profecias, o importante é que os governos estão se movimentando e os investidores atentos às medidas governamentais. No dia 15 de novembro acontecerá em Washington o encontro das 20 principais economias mundiais, dentre as quais o Brasil. Os presidentes desses países tentarão fechar um acordo que dê um norte para o fim desta tragédia econômica.

Com muita certeza, o presidente dos EUA, George W. Bush será cobrado, afinal de contas o núcleo explosivo da crise é lá, na irresponsabilidade do sistema financeiro e de concessão de empréstimos sem lastro de seu país. Mas não é momento de apontar culpados, mas sim de se encontrar soluções.

Mas antes do tão esperado encontro, nosso governo brasileiro já vem atuando. Já liberou o depósito compulsório ao Banco Central para injetar crédito no mercado, editou uma Medida Provisória que autoriza os bancos estatais a comprarem ações de entidades financeiras que possam vir a ter dificuldades, bem como, pequenas empresas da construção civil. Isso garante estabilidade no sistema financeiro, além de garantir o ritmo do mercado de construção imobiliária. Ou seja, estamos fazendo parte de nosso dever de casa.

Contudo, mesmo com essas movimentações governamentais, tanto internacionais quanto nacionais, são insuficientes para estancar a crise de forma muito rápida. Infelizmente o estrago já feito é grande e irá repercutir pelo menos nos próximos 24 meses.

Aqui em nossa cidade já temos notícias de investimentos que seriam feitos e que foram suspensos provisoriamente, pelo menos nesse período de incerteza e irracionalidade dos mercados. Não creio que isso irá gerar desemprego, pode sim não gerar mais empregos, que é um cenário menos traumático, mas atrasa o anseio da nossa população por crescimento econômico em nossa cidade e região.

Outra questão que afeta diretamente a economia local daqui de Pedro Leopoldo é o fato de os trabalhadores do setor das cimenteiras e afins estarem com dificuldades em fechar acordos coletivos com ganho real, as empresas estão oferecendo apenas a recomposição da inflação. Isso significa que menos dinheiro será movimentado em nossa economia local, tendo um efeito em cadeia nos outros setores.

Poderão ser tempos difíceis, com sorte com menor dificuldade que o esperado, mas em todo caso, a primeira providência será apertar o cinto, afinal o dinheiro sumiu.
Jair Santos, 36 anos, Assessor Parlamentar, Secretário de Formação do PT de Pedro Leopoldo e estudante de Direito da FADIPEL

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