quarta-feira, 28 de maio de 2008

Popularidade presidencial

Marcos Coimbra, sociólogo e cientista político

Ter um presidente popular faz alguma diferença para um país? Dizendo de outra forma, a popularidade presidencial traz algum benefício coletivo, transforma-se em alguma vantagem para os cidadãos?

Pode ser que não, que a existência de um governante com altos índices de apoio não queira dizer nada. Assim, para as pessoas, tanto faz que o presidente seja admirado e amado, quanto desprezado. Nada de relevante muda, pensando na coletividade.

É claro que muda para o próprio, pois é muito melhor ser querido que não o ser. Presidentes populares são presidentes satisfeitos, que recebem felicitações de seus assessores, que vivem clima ameno nos palácios. Quando novas pesquisas de opinião são divulgadas, são presidentes cuja alegria só aumenta.

Se, no entanto, forem prazeres apenas privados, não servem à sociedade. A aprovação popular se esgota em si mesma, não se transforma em força capaz de produzir resultados para todos. Fruídos na solidão, nada possuem de fecundo.

Pensando na nossa história política recente, em que o Fernando Henrique da crise cambial de 1999 e do apagão elétrico de 2001, com avaliação positiva abaixo de 10%, é, para o Brasil, diferente do Lula de hoje, que chega perto de 60% no mesmo indicador?

Chefes de governo impopulares, nos países democráticos, são lideranças com baixa capacidade de iniciativa e poucas condições de convivência frutífera com os outros poderes. Tornam-se reféns de quem controla o Congresso e outras instâncias de poder na sociedade, como a imprensa e os grupos de pressão. Sua agenda perde autonomia, sua autoridade passa a ser artificial. Falta-lhes legitimidade.

O contrário disso são os presidentes populares, como temos no Brasil, no início de cada mandato, quando estão em lua-de-mel com a opinião pública e ainda são pouco cobrados. Com os milhões de votos obtidos na eleição, todo presidente se sente forte para dialogar com o Congresso em posição altaneira. Pode enfrentar os núcleos de resistência às suas propostas que existem na sociedade.

E Lula, nosso recordista em matéria de popularidade presidencial, que está no seu sexto ano de governo com números em alta? O que faz com o apoio que obtém da sociedade? Poder-se-ia dizer que tem mantido seus compromissos fundamentais, seja para com os mais pobres (políticas sociais, por exemplo), seja para com o conjunto do país (estabilidade econômica, por exemplo). Isso é decisivo e o diferencia de seus antecessores que, aos olhos da maioria da população, não os mantiveram (uns mais, outros menos) e frustraram as expectativas neles depositadas.

Mas é pouco, para quem conta com tanto apoio. Em muitas áreas de governo, Lula poderia fazer mais do que fez e fará até o fim de seu período. Basta pensar no rol de reformas institucionais que deixa para seus sucessores.

Por razões de nossa história, talvez as pessoas cobrem pouco de Lula, pois não esperam muito de ninguém. Ao invés de achar que não precisa pensar nessas coisas, por ter a popularidade que tem, era ele quem deveria se cobrar mais.

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