domingo, 29 de junho de 2008

De volta aos partidos

Por Marcos Coimbra
"Não é hora de festejar a retomada de uma vida partidária intensa ou o enraizamento dos partidos que temos, mas também não há motivos para insistir no argumento de que nossos partidos simplesmente inexistem"

Contrariando o senso comum, os partidos estão voltando com força ao centro das discussões políticas brasileiras. Muita gente costuma pensar o inverso, que eles estariam se deteriorando dia a dia, mas não é isso que vemos.

Seja quando consideramos resultados de pesquisas de opinião, seja ao acompanhar o noticiário político, temos evidências dessa mudança. Não é hora de festejar a retomada de uma vida partidária intensa ou o enraizamento dos partidos que temos, mas também não há motivos para insistir no argumento de que nossos partidos simplesmente inexistem.


As informações de que dispomos sobre como se estruturavam as identidades partidárias em outros momentos de nossa história são escassas. Conhecemos os resultados eleitorais e os comportamentos dos políticos eleitos, mas não sabemos como as pessoas comuns se relacionavam com os partidos e o tamanho da “base social” de cada um.

Na República Velha, sequer faz sentido discutir a questão, tão restritivo era o sistema de representação. Os partidos existentes pareciam-se mais com clubes, nos quais as oligarquias mandavam e pouquíssimos participavam. O povo não votava e nada tinha a ver com essas organizações.

Entre 1945 e 1964, nasceu e se consolidou aquela que muitos consideram a única experiência real que tivemos de vida partidária. Saudosismo à parte, foi mesmo um período em que os partidos assumiram lugar central em nosso sistema político e em nossa cultura. Quem viveu ou tem referências sobre a época, se lembrará quão relevante era saber a qual partido alguém pertencia, para poder localizá-lo socialmente: “Sua família é udenista? PSD? PTB? Outro partido?”. Muita coisa podia depender da resposta, uma amizade, um negócio, até um casamento.

Em que pese essa importância, ninguém sabe a proporção de pessoas que se identificavam com um ou outro daqueles partidos. Ignoramos, também, quantos eram os que não simpatizavam com nenhum.

O fato é que o golpe militar de 1964 acabou com esses partidos e todo o processo de formação de identidades políticas que se desenvolvia em torno deles. No bipartidarismo artificial que impuseram, os ideólogos do autoritarismo achavam que estavam criando as bases de um sistema partidário “mais autêntico”. O resultado foi o oposto.

O mais grave é que identidades políticas não se formam da noite para o dia e o que foi destruído levou décadas para começar a se reorganizar. Sepultados a velha Arena e o MDB faz 25 anos, estamos desde então criando uma nova estrutura partidária, dificultada pela volatilidade institucional e jurídica que cerca o tema.

Assim, quando vemos pesquisas de opinião recentes, o que chama a atenção não é quão pequena, mas quão grande é a proporção de pessoas que se identificam com algum partido. Se lembrarmos que nossos partidos são todos jovens, que nossa legislação permite seu artificialismo (quando não o encoraja), que muitos de nossos políticos primam por dar exemplos de descrença nos partidos, a surpresa é ver que perto da metade dos cidadãos brasileiros diz se identificar com um. Este mês, a Vox Populi realizou pesquisa nacional que mostrou que 46% dos entrevistados simpatizavam com pelo menos um partido. Desses, o PT é, de longe, o maior, com 25% do total, recuperando o nível que alcançou após a primeira eleição de Lula, depois de haver caído muito em 2005, por causa do mensalão.

Nos Estados Unidos, com mais de 200 anos de democracia estável, a proporção de eleitores que não se identifica com nenhum partido (lá chamados “independentes”) é de cerca de 35%. Considerando tudo, até que nossa situação não é tão ruim. Imagina se nosso sistema político favorecesse a formação dessas identidades!

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