domingo, 15 de junho de 2008

Um caso exemplar

Por Marcos Coimbra

Na política, como na vida, regras são regras. Mas existem exceções a quase todas, ainda que aconteçam em situações excepcionais.

Tome-se a regra do descrédito dos políticos brasileiros. Ela assumiu esse posto depois que inúmeras pesquisas, feitas em âmbito municipal, estadual e federal, nos últimos anos, mostraram que não só havia um descrédito, mas que ele se aprofundava dia a dia.

Essas pesquisas revelam níveis tão elevados de desconfiança e desapreço a nossos políticos que, atualmente, já se discutem seus possíveis efeitos na redução de expectativas e no rebaixamento dos padrões de avaliação de instituições como o Congresso. De tanto achar que ninguém presta, a população se satisfaria com cada vez menos.

Em terra de cegos, vira rei quem tem um olho.

Por isso mesmo, são notáveis os casos em que a população de um estado ou de uma cidade aplaude seus governantes, ao invés de criticá-los. Mais raros ainda são aqueles em que ela o faz com entusiasmo e em proporções que beiram o consenso. E mais extraordinários aqueles em que tais avaliações são compartilhadas por prefeito, governador e presidente.

Das muitas cidades para as quais dispomos de dados, o caso de Belo Horizonte pode ser considerado exemplar. Já faz tempo que as pesquisas mostram quão elevada é, na cidade, a popularidade de Lula, de Aécio e de Pimentel. Ao que parece, é a recordista nacional de satisfação com o desempenho daqueles políticos cujas ações impactam mais diretamente na vida cotidiana.

A pesquisa realizada pela Vox Populi no fim de semana passado em Belo Horizonte voltou a revelar esse quadro, em tintas ainda mais nítidas que antes. Ouvidas pessoas de todas as condições e correntes de opinião, que simpatizam mais ou menos com todos os partidos, ela aponta para índices de aprovação muito elevados para os três.

Aécio faz um governo considerado “ótimo” ou “bom” por 86% dos moradores da cidade. Pimentel, por 73% e Lula, por 59%. Ou seja, cerca de dois terços da população de Belo Horizonte está perto de estar plenamente satisfeita com o governador, o prefeito e o presidente, simultaneamente. Incluída a avaliação “regular”, chegamos perto de 85% de pessoas que não desaprovam nenhum deles. É, realmente, um caso raro no Brasil.

Há quem desmereça resultados como esses, dizendo que eles só são possíveis na cidade pela inexistência de certo “contencioso” na política e na imprensa locais. Quem pensa assim costuma dizer que, em outras capitais, haveria mais cobrança, algo que não aconteceria em Belo Horizonte.

Fora o etnocentrismo, é impressão de quem ignora a realidade atual da imprensa e da formação de opiniões na cidade (e no Brasil). Imaginar que quase 1,8 milhão de cidadãos adultos pensam dessa maneira por ter sofrido uma espécie de “lavagem cerebral” é pura bobagem.

O fundamento principal dessa aprovação é a percepção de que os três trabalham bem, cada um a seu modo e em seu lugar, e, especialmente, que trabalham somando esforços e se complementando. Para os habitantes da cidade, Aécio, Pimentel e Lula foram capazes de colocar suas diferenças políticas e partidárias em segundo plano, se dispondo a encontrar entendimentos, e não conflitos.

Pensando no relacionamento do governador e do prefeito, passa de três quartos a proporção daqueles que aprovam a relação que estabeleceram, que se poderia chamar “parceria”, e que, agora, se traduz no apoio a uma candidatura comum a prefeito, nas eleições deste ano.

A grande maioria da população de Belo Horizonte, ao que parece, gosta do que vê atualmente. Coisas semelhantes não acontecem em outros lugares apenas porque o sistema político brasileiro só oferece produtos como esse em casos raros.

Um caso exemplar
"O caso de BH é exemplar. Já faz tempo que as pesquisas mostram quão elevada é, na cidade, a popularidade de Lula, de Aécio e de Pimentel"

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