domingo, 1 de junho de 2008

O PT e os seus problemas

Por Marcos Coimbra

Essa liberdade de Lula em relação ao PT assume seu ápice, nestes tempos, com o pré-lançamento da candidatura de Dilma Rousseff, sem qualquer respeito pelos trâmites partidários.

Para o PT, os próximos dois anos prometem ser bem interessantes, pelo que já estamos vendo agora. Imaginando que nada de extraordinário vá ocorrer, depois das tantas coisas que se passaram com o partido desde a chegada de Lula ao poder, apenas o normal deve bastar para manter os espíritos animados por lá.


O tema mais candente não é novo, mas adquiriu significado diferente nos últimos anos. São as tensões entre Lula e o partido, que sempre existiram, mas que se transformaram por completo após a vitória eleitoral de 2002. Com o poder e as liturgias dele derivadas, Lula cresceu, enquanto lideranças que até então eram suas iguais continuaram do mesmo tamanho.

A estratégia usada para escapar dos efeitos do mensalão em 2005, que em parte nasceu a cada novo desdobramento do caso, em parte foi conscientemente elaborada, aumentou ainda mais essas discrepâncias. Lula foi se poupando e lançando ao mar seus antigos colaboradores, até não sobrar quase nenhum. O PT sofreu muito mais que seu líder maior.

Contrariando a opinião de vários companheiros remanescentes, que aconselharam, lá pelos finais daquele ano, que optasse por não concorrer à reeleição, Lula seguiu em frente. O resultado é que não só ganhou, como venceu quase sozinho. Algo que tinha sido fundamental para sua vitória em 2002 não teve papel sequer parecido em 2006. Lula pouco precisou do PT para conquistar seu segundo mandato.

Nele, Lula ficou mais e mais independente do PT. Embalado pelos bons resultados da ação governamental e com popularidade crescente, o presidente faz um governo que se torna menos petista a cada dia, com figuras menos autônomas em relação a ele. Na substituição de Marina Silva, por exemplo, o meio ambiente continuou na cota do PT, mas Carlos Minc, em que pese seu currículo, tem menos luz própria do que a antecessora.

Essa liberdade de Lula em relação ao PT assume seu ápice, nestes tempos, com o pré-lançamento da candidatura de Dilma Rousseff, sem qualquer respeito pelos “trâmites partidários”. Ao patrocinar a ministra, Lula ignora outros aspirantes, passa por cima das instâncias formais de decisão partidária (diretórios, convenções, Executiva, etc.) e define sozinho quando e como tratar do tema sucessório.

Em recente entrevista, o ministro Tarso Genro mostrou como está elevada a insatisfação de parte relevante do PT com o que vem ocorrendo. Nela, não foi um ministro e um assessor presidencial quem falou, mas um dirigente partidário, com uma linguagem mais adequada a alguém que está fora que dentro do governo.

Ao discorrer sobre as questões sucessórias, Tarso Genro torna secundário o papel de Lula na definição dos rumos do PT na próxima eleição. Ao ponto de dizer, com alguma condescendência, que “até é bom que o presidente jogue (sic) um nome”, ao falar da aparente preferência de Lula pela ministra. A decisão mais relevante, contudo, estaria reservada ao que chama “núcleo dirigente”, composto de “10, 12 dirigentes do partido, com voz pública, respeitabilidade, relações políticas internas e sólidas”.

Quando começa a chegar o fim de um governo, é até natural que o debate sucessório se precipite dentro do partido que está no poder. O mais comum, no entanto, é ver candidato brigando com candidato (como tivemos na guerra de Serra contra todo mundo no PSDB, em 2001 e 2002). Conflitos de ministros com o presidente da República, que é quem mais força tem na sua sucessão, são coisa rara.

Quem entende de PT vê essa mesma tensão no comportamento dos órgãos partidários a respeito da eleição deste ano em Belo Horizonte. Ao vetar a coligação transparente do partido com o PSDB, no apoio a um candidato a prefeito do PSB, o que se queria talvez fosse mandar um recado a Lula, manifestamente favorável à tese. Ele terminou derrotado com a decisão de sexta-feira.

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