quarta-feira, 4 de junho de 2008

Relações sob suspeita

Deu na Revista Impresa

Prisão do jornalista Roberto Cabrini em companhia de uma suposta fonte acende debate sobre relação entre fontes e repórteres e revela imbricado sistema de comunicação no interior das cadeias que, além de aparelhos celulares, utiliza advogados e membros do PCC em contato com a mídia.

Fosse dia 1.° de abril, tudo poderia ser facilmente explicado - "é mentira", talvez pensasse a maioria dos leitores do noticiário na internet daquela terça-feira. Era terça-feira, sim, mas dia 15, e Roberto Cabrini foi preso, com dez papelotes de cocaína, acompanhado de uma "fonte", depois de uma blitz da polícia em seu carro na Zona Sul da capital paulista. O jornalista amargou dois longos dias atrás das grades. A detenção do repórter, que tem 47 anos e quase trinta de atuação profissional, causou surpresa e, mais uma vez, trouxe à pauta a discussão sobre os limites de relação entre fontes e jornalistas.

À polícia, Cabrini contou que fazia uma reportagem investigativa sobre o PCC - Primeiro Comando da Capital - e usava seu próprio carro para não chamar a atenção. Disse que Nadir, a mulher que estava com ele, era a sua "fonte", seu elo com o PCC e que ela havia marcado um encontro com a promessa de que entregaria uma fita de um depoimento de Marcola [Marcos Willians Herbas Camacho], atestando a autenticidade da entrevista supostamente concedida por ele a Cabrini em 2006, onde explicava por que a facção decidira fazer os ataques em maio daquele ano.

Quem intermediou a entrevista, naquela época, contou Cabrini à polícia, foi Nadir. E como sua "fonte", ela colaborava para que ele comprovasse a veracidade daquela entrevista de 2006, diante da negativa do Governo que o entrevistado fosse Marcola. A história pegou muito mal para o jornalista, até então tido como um profissional de muita credibilidade. Por alguma razão, Cabrini foi convencido de que era mesmo Marcola na linha, gravou a entrevista e a colocou no ar, na TV Bandeirantes. A Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) negou a veracidade da entrevista, ao alegar que, estando num presídio de segurança máxima, o detento não teria como falar em celular porque a cadeia era equipada com bloqueadores. A pedido da SAP, peritos da Unicamp foram até a penitenciária, fizeram uma gravação e depois compararam com a voz exibida por Cabrini no Jornal da Noite. Concluíram: não se tratava da mesma pessoa, ou seja, quem gravou com o jornalista, em maio de 2006, não foi o Marcola. Cabrini teria sido vítima de uma barriga.

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